Recentemente, uma pesquisa da professora de psicologia Jean Twenge, da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos, gerou polêmica. Suas conclusões estão no livro iGen: Why Today's Super-Connected Kids are Growing up Less Rebellious, More Tolerant, Less Happy - and Completely Unprepared for Adulthood (iGen: Por que as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes - e completamente despreparadas para a vida adulta, em tradução livre). Autora de mais de 140 publicações científicas e livros, nos últimos 25 anos ela estudou as diferenças entre gerações e, por volta de 2012, começou a reparar mudanças abruptas no comportamento e no estado emocional dos jovens.
Os jovens estão menos propensos a dirigir, trabalhar, fazer sexo, sair e beber álcool, concluiu Jean Twenge.
Os “iGens” – nascidos entre 1995 e 2012, segundo a autora – possuem comportamentos diferentes dos jovens das gerações anteriores. Os resultados de sua pesquisa revelam uma geração que sai menos com os amigos, não tem pressa para começar a dirigir, dorme menos, namora menos e faz menos sexo. Como assim? Estamos mesmo falando de adolescentes?
A pesquisa de Twenge se aprofunda na relação entre a conectividade e essas características. Ou seja, a autora conclui que as inúmeras horas passadas online e com contatos apenas virtuais pela atual geração interferem diretamente nas suas habilidades sociais e relações reais. E esse é o gatilho para o aumentos dos casos de solidão, depressão e suicídio nessa faixa-etária. A hiperconectividade (jovens passam em média seis horas por dia conectados à internet, enviando mensagens e jogando jogos online) tem um grande peso no fato de a atual geração de adolescentes passar menos tempo com amigos - o que pode afetar o desenvolvimento de suas habilidades sociais.
Se, por um lado os IGens têm uma relação quase umbilical com a tecnologia, por outro esses jovens são psicologicamente mais vulneráveis do que os millennials, a geração que os antecede. Os nascidos após 1995 vem amadurecendo mais lentamente. "Os de 18 anos agem como se tivessem 15 em gerações anteriores", afirma a pesquisadora. Os jovens hoje chegam à universidade e ao mundo do trabalho com menos experiências, mais dependentes e com dificuldade de tomar decisões.
Talvez esteja aí a explicação para o fato de a Orientação Profissional e de Carreira, feita sob a supervisão de um profissional, seja na escola ou num consultório particular, nunca ter sido tão fundamental.
Ora, crianças e jovens contemporâneos brincam cada vez menos juntos. As brincadeiras que na minha infância eram nossas referências de diversão (pega-pega, amarelinha, pular elástico, vivo ou morto, taco, bolinha de gude, esconde-esconde e tantas outras), hoje tem nome (foram batizadas de “brincadeiras de rua”) e são conduzidas e organizadas por monitores, animadores e educadores. Na ausência deles, não fazem parte do repertório infanto-juvenil.
Em contrapartida, a infância atual se passa em grande parte defronte da TV a assistir desenhos e séries ou diante de um computador a jogar games. Quando as crianças interagem? Quando conversam? No playground, na esquina, na disputa nos jogos de rua, no telefone, na porta de casa, nos barzinhos, nas boates. É aí que a vida social acontece - sem a supervisão dos pais ou educadores. Nessas situações aprendemos a nos relacionar e a tomar decisões, aprendemos a lidar com as nossas emoções (raiva, ciúmes, alegria, cansaço, stress, etc) e a nos colocar no grupo social.
É no convívio com os nosso pares que desenvolvemos nossa autoafirmação e nossa independência.
O crescente uso dos videogames e da Internet provoca um isolamento no adolescente e, antes mesmo de chegar à depressão, acarreta em inabilidades sociais e em imaturidade para tomar decisões acerca de sua vida. A aparente liberdade de escolha promovida pela grandiosidade da Rede, na verdade, esconde um intenso processo de insegurança e infantilização.
Estudos revelam que o adolescente brasileiro é um dos mais conectados do mundo e passa mais tempo na internet do que a média global. Um estudo da empresa Amdocs, especificamente, com adolescentes entre 15 e 18 anos, mostrou que 68% deles se sentem ansiosos e solitários quando estão sem internet. É uma dependência do mundo virtual em detrimento da vida real. Falta-lhes motivação.
Assim, essa mesma criança que não brinca (nem briga!) na rua cresce sem a vontade de sair da casa dos pais, de arriscar seu pescoço, de enfrentar desafios nem de cair na estrada com suas próprias pernas. Passar dificuldades e perrengues, vamos ser sinceros, para quê? Independência? Liberdade? Bens materiais? É o que mais eles têm em casa. Porta do quarto fechada, celular conectado e o mundo está lá, nas suas mãos! Com a vantagem de não ter de pagar pela roupa limpa, pelo nhoque da Nona e, muitas vezes, nem pela conta desse celular...
Trata-se de uma geração que pode ter independência na casa dos pais, mas certamente não tem autonomia. Pode ter total liberdade de ir e vir, mas não tem auto-suficiência. A capacidade de ficar em pé com suas próprias pernas era algo muito desejado em gerações anteriores. Nas palavras do psicólogo, professor e escritor sextagenário Yves de la Taille, na sua juventude “havia um certo brio em sair de casa, manter-se sozinho, enfrentar a vida para ter independência e vida própria. Esse orgulho vinha do clima cultural vigente: ao sair de casa, rompiam-se as amarras com um sistema familiar duramente contestado e abriam-se caminhos para novas formas de viver em sociedade”. Independência estava associada à honra.
Hoje, os jovens não buscam essa independência e tem dificuldade em tomar suas próprias decisões. Não aprenderam a se colocar socialmente quando crianças, e portanto também não sabem fazê-lo no ambiente de trabalho.
As dúvidas são inúmeras e a angústia é enorme - tanto de jovens vestibulandos quando de adultos já ingressos no mercado de trabalho.
E aí surge o papel do Coach Orientador Profissional e de Carreira. Junto com esse jovem, ele vai auxiliá-lo a constituir um projeto de vida e a traçar as metas para chegar lá.